Theoria: Cultura e Civilização | Filosofia da Cultura

Da Introdução, por Luís Machado de Abreu:

Fundamentar é o imperativo da situação de complexidade crescente, pluralidade e heterogeneidade de caminhos, evolução contínua de saberes, mudança rápida de atitudes e comportamentos que caracteriza a vida das sociedades hodiernas. Destes sinais de conjuntura, os espíritos mais atentos e inquietos extraem apelos à fundamentação de critérios que, nos sobressaltos do mundo actual, permitam avaliar e fazer a destrinça entre as experiências que servem a edificação do homem e o seu futuro responsável, e as que não passam de puro divertimento com que atravessamos a “era do vazio”. Na questão do fundamento repercutem-se afinal as interrogações nucleares, essenciais, sobre o princípio do ser e o sentido do existir, sintetizadas por Kant nas quatro questões fundamentais: Que posso saber? Que devo fazer? Que me é dado esperar? Que é o homem?

A proposta de filosofia da cultura praticada por Manuel Antunes, sendo um exercício de solicitude e de compromisso solidário com o destino do homem, e precisamente por isso, transcende infinitamente o universo antropológico. O que no ser do homem verdadeiramente está em jogo é o destino do homem no Ser. Nesta filosofia, não há questionamento nem resposta antropológica que não se transcenda em ontologia da cultura. Numa das suas declarações mais afirmativas, o nosso pensador ousa fazer prospectiva e proclamar que “se ser profeta é saber fundar-se na história, atrevemo-nos a dizer que a filosofia do próximo futuro será porventura dominada pela constelação da ontologia e da metafísica” (in: “A Metafísica Tomista em Perspectiva”).

De facto, no discurso ensaístico de Manuel Antunes lê-se em filigrana a nostalgia da síntese em que se fundem todos os saberes e em que nem um só dos mais humildes grãos de verdade deixa de contar. Entre as suas formulações mais recorrentes está a da incansável procura da unidade e da totalidade.” (pp. 3-4)